Psicanálise para quem?

Se você já pensou em buscar um psicanalista ou um outro psicoterapeuta e desistiu por não saber se esses serviços poderiam te ajudar, esse texto é para você.

Muita gente que não trabalha com saúde mental (e, mesmo, um ou outro que trabalha) costuma pensar que só devem procurar um psicanalista ou psicólogo clínico pessoas que sofram de algum transtorno mental, que estejam lidando com alguma doença, ou que estejam passando por algum problema muito grave ou muito óbvio — como um luto, um rompimento de relacionamento ou algum momento difícil na carreira, por exemplo.

Isso não é verdade.

Se engajar em uma análise e em outros tipos de psicoterapias pode trazer ganhos e benefícios à maioria das pessoas que pensam em ir atrás de um profissional dessa área, mesmo que não estejam nessas situações em que tipicamente se recomenda buscar ajuda. Nesse artigo, vou tentar explicar de forma simples, direta, mas sem abrir mão de informar corretamente, quem pode se beneficiar de um processo como esses.

Esse artigo faz parte de uma série de pequenos textos em que tento explicar de forma acessível — mas sem abrir mão da qualidade das informações — , ideias, termos e conceitos comuns do mundo da psicologia, psicanálise e saúde mental, que podem deixar confusos os principais interessados no assunto: pessoas que não trabalham na área mas que buscam um profissional para si próprio ou para alguém próximo.

Por que essa dúvida existe?

A confusão a respeito de se a psicanálise e outras psicoterapias podem ou não ajudar pessoas que não apresentam uma doença psíquica remonta à origem das psicoterapias. Elas surgiram a partir do trabalho de um médico neurologista vienense chamado Sigmund Freud (1856–1939), no final do século 19, com pessoas que sofriam de condições que se chamavam popularmente na época de “doenças nervosas”. Desse trabalho que Freud realizou, surgiu a psicanálise, método clínico e investigativo, que é considerada a primeira forma de psicoterapia (me dedico em outro texto a explicar melhor o que é e como surgiu a psicanálise).

Por isso, inicialmente, a psicanálise (e por consequência, outros métodos de psicoterapias que vieram a surgir naquele período) era um produto da tentativa de curar pessoas que sofriam de doenças diagnosticadas por médicos da época, caracterizando-a assim como uma terapia:

Terapia

Todo método que visa descobrir as causas e os sintomas dos problemas físicos, psíquicos ou psicossomáticos e, por meio de tratamento adequado, restabelecer a saúde e o bem-estar do paciente.

(Dicionário Michaelis On-line, acessado em 17/10/2018)

No entanto, apesar dessa origem bastante ligada à busca pela cura de um problema específico, Freud e seus seguidores logo perceberam que a psicanálise oferecia muito mais que uma chance de cura de um sintoma qualquer. De fato, foi ficando claro para os praticantes da psicanálise que o método era efetivo em causar mudanças significativas na vida das pessoas, muitas vezes ultrapassando os limites estabelecidos pela medicina ao delimitar o que era considerado uma doença. Logo, a psicanálise passou a ser recomendada para um número cada vez maior de pessoas, mesmo que não estivessem propriamente doentes, mas que estivessem passando por algum tipo de sofrimento.

Da mesma forma que a psicanálise, outras psicoterapias surgiram em contextos parecidos — ou seja, ligadas à cura de doenças e/ou sintomas — , mas logo, com os resultados trazidos pela prática clínica de seus seguidores, tiveram seu leque de atuação ampliado pelos benefícios que trazia a pessoas que não estivessem doente mas recorressem aos seus métodos (cabe aqui esclarecer que, apesar da minha formação em psicologia me dar subsídios para falar superficialmente sobre alguns desses outros métodos psicoterápicos, minha prática profissional é exclusivamente ligada à psicanálise e, por isso, daqui em diante, me limitarei apenas às explicações ligadas a esse formato clínico).

Então a psicanálise é para todos?

Sim — com ressalvas. A psicanálise tem algo a oferecer a qualquer pessoa que esteja passando por algum tipo de sofrimento cuja origem esteja em conflitos psíquicos de difícil resolução. Em outras palavras, sempre que as ideias, desejos, pensamentos ou emoções conflitantes de uma pessoa estiverem causando sofrimento, a psicanálise poderá oferecer algo a essa pessoa no sentido de ajudá-la a lidar com o sofrimento e com o conflito. A grande questão é que, muitas vezes, esses conflitos são difíceis de se perceber por conta própria, sem ajuda de outra pessoa que possa nos escutar e nos apontar algo além do que nós mesmos somos capazes de ouvir. O psicanalista tem a tarefa de, ao ouvir o que a pessoa em sofrimento diz, escutar além do que ela própria escuta, e ajudá-la a perceber as origens e, portanto, as possíveis saídas para o conflito que a faz sofrer.

É interessante notar que, com frequência, pensamos saber as origens de nossos sofrimentos. “Estou sofrendo porque meu pai (ou minha mãe, ou meu filho, ou minha esposa, ou meu melhor amigo…) morreu”. “Sofro porque perdi meu emprego e não tenho condições de me sustentar”. “Estou em sofrimento porque estou com depressão”. Frases assim são comuns de se ouvir de quem acaba de chegar à primeira sessão de análise ou, então, daqueles que querem justificar sua não-procura por um profissional.

Elas não estão erradas, evidentemente: qualquer um de nós sabe do sofrimento que traz a perda de uma pessoa querida, a vivência de uma depressão ou a perda de um emprego, por exemplo. No entanto, pessoas diferentes sofrem de formas diferentes frente a essas mesmas dificuldades — algumas mais, outras menos. A psicanálise dá a chance, a cada um que se permite esse trabalho, de entender melhor o porquê de cada sofrimento ser único, singular, e por quê caminhos (mais ou menos tortuosos) as pessoas deverão buscar saídas para seus sofrimentos.

Experimente!

A melhor forma de saber se a psicanálise pode te ajudar é se permitindo experimentar. Busque um psicanalista em sua cidade ou sua região, agende um horário, vá experienciar a oportunidade de falar e ser ouvido livremente. Ou agende uma sessão online com um psicanalista que você preferir! Inclusive, se quiser, basta me enviar uma mensagem no Whatsapp. Você pode descobrir que, mesmo estando em um sofrimento muito grande, há saídas para o que você está vivendo. E mesmo sabendo quais são suas dificuldades, há sempre mais que possamos descobrir sobre nós mesmos que nos ajuda a viver de forma mais plena.