Imagina:
Estar em algum lugar novamente, onde já se esteve muitas vezes, e não ser reconhecida. Olhares de hesitação, descaso, desprezo. Ou seriam de reconhecimento?
Então, olhar em volta ao andar pela sua rua, pela sua cidade, pela sua escola, pelo seu bairro, pelo seu trabalho, e não reconhecer ninguém. Tudo novo para se conhecer. Nada reconhecível.
Pesadelo, sonho, delírio, desejo.
Solidão?
Reconhecimento parece ser algo que todos querem. Mas não por qualquer motivo. Sim, reconhecimento pelo trabalho bem feito, pela amizade fiel, pela bondade encenada, pela genialidade exibida, pela coragem esbanjada… Mas não, que não me reconheçam se eu estiver sendo um canalha, se eu estiver roubando, se eu estiver envergonhada, se eu estiver me sentindo horrorosa, se meu fazer não for condizente com meu dizer.
Reconheço: não estou me fazendo entender. Talvez vocês não me reconheçam ao ler essas linhas. Dirão — quem é essa pessoa que não conheço? Mas, mesmo que reconhecessem, isso quer dizer que me conhecem?
O medo do desconhecido é maior que o medo de não ser reconhecida? Eu já disse, mudanças nem sempre são fáceis: se mudamos, quem nos reconhecerá depois? Não mudamos por medo de perder o reconhecimento do outro?
Agora,
Imagina olhar no espelho e não se reconhecer.
Imagina, o que pode ser ainda pior, se reconhecer:
Olhar no espelho e se iludir, achando que aquela é você.
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