Vazio

De vez em quando, te deparas com um vazio de ideias. Queres escrever e nada sai. Nada. Ficas olhando, a tela em branco no computador, o cursor piscando, esperando, e nada.

A que resistes? Se eu não te fizesse essa pergunta, poderia trocar de profissão. O que te prende e trancafia tuas palavras, tuas ideias?

De vez em quando, tens um vazio no peito. Buscas sentir e nada surge. Nada. Prestas atenção: o buraco na alma, a ansiedade, a vontade de chorar, e nada.

Do que te defendes? É inevitável que penses que algo está errado. Onde estão teus sentimentos?

De vez em quando, sentes que o tempo se esvazia. As horas passam, e é como se nada acontecesse. Nada. Buscas preencher o tempo, inventas tarefas, lugares pra ir, coisas pra dizer. Mas nada.

Aonde foi o tempo? Ou talvez seja tu que tenhas te ausentado. Onde estiveste enquanto o tempo passava?

De vez em quando, encontras um vazio na memória. Anseias por te lembrar, por reviver, e nada. Nada. Apelas para fotografias, fazes perguntas para quem acreditas que esteve lá contigo. Mas nada.

Por que esqueceste? Se é mesmo que esqueceste. Por que não te lembras?

De vez em quando, encontras um vazio no espelho. Vês olhos, cabelos, boca, corpo, e nada de ti. Nada. Te mexes, viras pro lado, de costas. Mas nada.

Por que não te enxergas? Embora talvez te vejas, pensas que não. Por que não te queres ver no espelho?

De vez em quando, teu mundo se esvazia.

Cabe a ti tornar a preenchê-lo.