Tag: cotidiano

  • Quereres

    Recentemente, quis dedicar todo meu trabalho à minha clínica particular e à minha relação com a psicanálise. Achei, também, que era o momento ideal para perseguir outro querer: escrever mais.

    Faz tempo que tenho gosto pela escrita, admiro quem escreve bem. Exercitei, em tempos longínquos, o hábito de escrever pequenos contos que eu publicava em um blog, mas que se perderam com o tempo. Isso se deu há mais de 10 anos, e depois me acompanhava o pesar por ter abandonado esse hábito. Posteriormente, algumas vezes bastante raras, acabei escrevendo algo, mas poucas dessas já raras vezes eu tornei algum desses textos públicos. Alguns estão disponíveis em outros lugares da internet. Fica aqui o convite a usar o Google. Sempre que publiquei um texto, assinei.

    Mas é nesse contexto que decidi fazer esse instagram: tinha muito texto querendo ser escrito, e já fazia muito tempo. Apesar do insta ser uma péssima plataforma para escrita, é aqui que as pessoas estão (já fiz essa reflexão em algum texto anterior). E é para as pessoas lerem que eu quero escrever. Um querer já bastante antigo.

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  • Sonhos

    É preciso sonhar. No entanto, se vê hoje em dia uma quantidade enorme de pessoas que reclamam: não consigo dormir. Não tem sonho sem sono, né, e aí a gente já percebe que o mundo está cheio de gente que também não sonha. Gente que abandonou seus sonhos.

    É com você que estou falando? Espero que não. Sonhar é importante, e faz tempo que a gente sabe disso. Tanto que sonhar nem significa mais só aquela experiência durante o sono, em que imaginamos (alucinamos?) que estamos vivendo coisas, muitas vezes absurdas, para depois acordar e descobrir que era só sonho. Sonhar ganhou status de querer, ansiar, desejar muito alguma coisa. Já parou pra pensar no porquê disso?

    Eu tenho uma relação antiga com sonhos. Aliás, um fato sobre mim: me aproximei da psicologia e consequentemente da psicanálise por causa de um sonho (desses do sono, não do outro tipo). Olha aonde isso me trouxe. E tem gente que não dá valor para seus sonhos. “Só sonho um monte de coisa maluca” ou “só sonho um monte de coisa boba”. Queria ganhar um sonho para cada vez que escuto isso. Falo agora, claro, dos da padaria.

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  • Dopamina

    Eu estava em busca de um tema sobre o qual escrever. Minha ideia, aqui, é escrever de forma regular sobre assuntos que tenham intersecção com psicanálise ou, de forma mais ampla, que se relacionem com saúde mental. Pretendo também, embora não seja uma regra, que os textos tragam questões cotidianas. É um desafio que me impus. Preferia fazer isso num blog, ou algo parecido: aqui existe uma limitação de tamanho que me chateia. Mas fora daqui vocês não leriam, a moda é o Instagram. Sei porque eu também não leio. Vivemos no Instagram. Pois bem.

    Essa introdução já suscita um assunto óbvio: redes sociais. É claro, desde o Orkut nossa vida na internet gira em torno das redes sociais. Os mais novos aqui talvez nem tenham conhecido o Orkut. Os ainda mais novos, nem o Facebook. Me pergunto quando superaremos o Insta. Faz parte, o tempo passa. Mas divago. Redes sociais, como assunto, são um prato cheio para quem quer escrever sobre comportamento e saúde mental. E os psis, claro, assim como eu agora, aproveitam. Pululam nas próprias redes textos denunciando os efeitos nocivos que elas podem ter, e de fato têm, sobre a saúde mental das pessoas.

    Sabemos, mesmo quem não é da área sabe, até sobre como nos tornamos dependentes das pequenas doses de dopamina que cada curtida ou outra interação positiva traz, provocando prazer, e sobre como essa dependência nos afasta da realidade e nos mantém refém das telas. Temos consciência da ansiedade que provoca a ideia vendida nas redes de que a vida tem que ser sempre interessante e “instagramável”. Está claro para todos como os algoritmos tendenciosos nos prendem em bolhas ideológicas que nos impedem de ter contato com o diferente, nos tornando intolerantes, além de nos segmentarem, transformando-nos em um grande mercado para a propaganda manipuladora.

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  • Fake

    Fake agora é moda. Corrijo: já faz um bom tempo. Mas o termo se tornou mais popular recentemente. Mentira deixou de ser mentira — agora é fake news. O sujeito faz uma conta na rede social com nome e foto falsa para bisbilhotar a vida a vida alheia: fez um fake. A pessoa compra uma bolsa Lui Vitão, ou um tênis da Naike; tá na cara que é fake. Até os golpistas agora se passam por alguém que não são nas redes, um perfil fake. Aliás, aconteceu comigo esses dias: quando vi, tinha outro Caio Conechoni importunando meus contatos por aí. Me senti importante.

    Estou surpreso, aliás, que fake ainda não virou diagnóstico. Síndrome do membro fantasma? Síndrome do membro fake. Alucinação não-psicótica, conhecida como pseudoalucinação? Alucinação fake. Imagina a pseudociese, a tal da gravidez psicológica? Ora, é fake. Por falar nisso, acho curiosa essa associação do psicológico com o fake. Porque é psicológico, deve ser fake. Até escuto o fulano dizendo “isso aí não é nada, é só psicológico” como quem diz “isso não é nada, é fake”.

    Os psicólogos ficam loucos com isso. Os psiquiatras, suponho, também não gostam. É claro, estas categorias dependem da realidade daquilo que é psicológico. Se não for assim, psiquiatra pode ser substituído por neurologista. E psicólogo por… por quê? Mas vou dizer um negócio importante, tanto que vou até destacar em um parágrafo exclusivo:

    Você é meio fake.

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