A Internet surgiu na década de 80 do século 20, e popularizou-se de verdade a partir dos anos 2000. Houve um tempo em que dizíamos (nós, os velhos — se você lembra, você também é) que íamos “entrar na Internet”. Quem viveu, sabe do que eu tô falando. Passávamos nossos dias desconectadas, interagindo pessoalmente com as pessoas no trabalho, na escola, no treino esportivo, na fila do banco, em todo lugar por onde passássemos, e em ocasiões esporádicas, sentávamos em frente a um computador e estabelecíamos uma conexão. Em algum momento, com a modernização e barateamento das tecnologias, a conexão passou a estar sempre estabelecida, e o computador estava sempre online, mas ainda era um computador: grande, pesado e imóvel. Para estar online era preciso estar sentada na frente da tela, e ainda não havia uma maneira de acessar a internet que fosse portátil, rápida, barata e onipresente.
Isso, obviamente, mudou. Celulares smartphones se tornaram, a partir de meados da década de 10 do século 21, muito populares. É incomum, exceto nas camadas mais desfavorecidas economicamente da sociedade, encontrar alguém que não carregue um desses no bolso, com um plano de internet contratado, que habilita a pessoa a estar online 24 horas por dia. Mesmo quem não tem o plano de internet por questões financeiras, costuma transitar por locais onde há wi-fi disponível, o que ameniza a desconexão. A tecnologia e infraestrutura por trás da Internet também avançaram, as conexões são mais rápidas e confiáveis, e o volume de dados transmitidos por segundo atualmente é incrivelmente maior que nos primórdios.
Mudanças e adaptações
Nos acostumamos a essas mudanças rapidamente, e elas alteraram completamente nossa maneira de viver. É raro ouvir alguém falar em fila de banco, hoje em dia; resolve-se tudo, de pagamentos a empréstimos e financiamentos, passando por investimentos, transferências e cobranças, pelos próprios apps dos bancos. Dificilmente alguém liga em um restaurante para pedir comida: usa-se o app de delivery, ou o próprio aplicativo/site do estabelecimento possibilita fazer o pedido por ali. Muita gente já tem o hábito de fazer compras de mercado online, e abdicou do costume de ir pessoalmente ao supermercado. As locadoras de fitas, DVDs e Blurays acabaram, e a audiência de canais de TV diminuiu muito — hoje só se assiste a filmes e séries pelos serviços de streaming, 100% dependentes de uma conexão rápida com a internet. Até pra conhecer gente nova, dar uns amassos ou namorar, as pessoas hoje dependem da internet.
Já em 2020, começamos a viver a pandemia de covid-19. Fomos forçadas a reduzir nossa circulação nas ruas pela nossa saúde e pelo bem comum. As interações presenciais reduziram drasticamente. Se não fosse a Internet, não sei o que teria sido de nós. Pela rede mundial, muitas pessoas fizeram cursos, leram livros, assistiram a muitos conteúdos audiovisuais, flertaram e namoraram, aprenderam a cozinhar. Os serviços de videochamada (a dois ou em grupo) se popularizaram enormemente, possibilitando que reuniões de trabalho ou de amigos acontecessem. Quem ainda resistia às comodidades que o online pode oferecer acabou se rendendo e se adaptando à nova realidade. Atendimentos médicos e de outras especialidades de saúde, que antes avançavam timidamente por essa via do virtual, passaram a ser extremamente comuns. As terapias, psicoterapias e psicanálises, também.
Dúvidas e incertezas
Quando comecei minha prática clínica, lá em 2017, atendimentos psicológicos online já existiam, mas eram poucos, nichados, e cercados por dúvidas e incertezas que vinham tanto dos usuários dos serviços quanto dos profissionais. Eu não recebia pacientes nessa modalidade, por opção própria. Também não fazia minha análise pessoal dessa maneira. Em geral, não se sabia muito bem como fazer isso, que plataforma usar, e havia dúvidas mesmo quanto à efetividade dessa modalidade de atendimentos. Os que realmente tinham algumas respostas para essas dúvidas eram poucos e atendiam demandas bastante específicas.
Aí, veio a pandemia e forçou todo mundo, seja usuário de serviço, seja profissional, a passar para os atendimentos online. Pra mim, foi um choque. Eu nunca tinha me preocupado se tinha infraestrutura adequada para prestar esse tipo de serviço, nem tinha a experiência que ele poderia demandar. Imagino que meu analista também não tivesse. Mesmo assim, lá estava eu, atendendo meus pacientes por videochamada, e fazendo minha análise pelo celular com meu analista. Questionei, inicialmente, se eu poderia oferecer um bom serviço às pessoas que me procuravam nessa época, mas, mais do que isso, questionei se minha análise pessoal continuaria avançando nessa modalidade.
Experiência com a clínica online
É claro que o passar do tempo me surpreendeu. Fui descobrindo que, sim, a terapia online funciona. Apesar da insegurança, me esforcei para manter os atendimentos que eu prestava na época pela via do virtual, me adaptando às novidades e necessidades. E conforme os tratamentos avançavam ficava evidente que a efetividade dos atendimentos estava mantida. Mais surpreendente ainda foi minha própria análise. Senti que muitas questões se abriram pra mim nessa modalidade, questões que até então eu ainda não tinha tido condições de abordar e mexer. Foram anos de muito proveito para mim. Fui entendendo que o atendimento online não é igual, e não pretende ser igual, ao atendimento presencial. Vi muitas colegas tentarem adaptar técnicas e manejos do consultório ao virtual, tentando criar soluções para a ausência do divã, da sala de espera, do contato olho no olho, etc. Com frequência, essas adaptações nem faziam sentido. Foi preciso pensar nas particularidades dessa forma de prestar atendimento, e desenvolver novos manejos e condutas, melhores adaptadas à nova forma de fazer a clínica. Muita literatura foi produzida a respeito dessa modalidade de atendimento, que apesar de não ser nova, era novidade para a maioria.
Conforme os riscos da pandemia foram cedendo e pudemos sair mais de casa, muitos atendimentos presenciais foram sendo retomados, mas o online não desapareceu. Pelo contrário, vi uma quantidade grande de colegas não voltarem mais aos atendimentos presenciais, passando a clinicar somente por videochamada. Muitas outras, assim como eu, mantiveram os atendimentos online — especialmente aqueles com pacientes que eram de outras cidades, ou que tinham algum tipo de dificuldade para estar presencialmente no consultório — enquanto também retomavam os atendimentos presenciais. Algumas pessoas que faziam sessões nessa época insistiam para o retorno ao presencial; enquanto outras pediam para continuar online, mesmo estando habilitadas para irem pessoalmente à sala de atendimento. Como sempre deve ser na clínica, essas condutas foram avaliadas no caso a caso.
Seja online ou presencial, o importante é se cuidar
Estamos em 2025, a covid-19 se tornou uma doença que já não oferece tantos riscos — graças à vacinação, vale sempre lembrar. Voltamos a circular com nossos corpos nos espaços de trabalho, nas escolas e faculdades, nos mercados, restaurantes, shoppings, academias, cinemas, praças, parques, espaços de saúde e consultórios clínicos. Já se vão 4 anos completos em que a grande maioria dos profissionais psi, incluindo eu, passaram a oferecer atendimentos online. Apesar de todos os problemas que a pandemia trouxe, e foram muitos, me parece que a popularização dessa modalidade de atendimento à saúde mental foi uma mudança positiva. Hoje, pessoas que estão em qualquer lugar do Brasil, ou mesmo no exterior, podem procurar um terapeuta via internet, agendar um horário e começar a fazer sessões, mesmo que nunca encontre o profissional pessoalmente na vida. De alguma maneira, essa facilidade acaba por favorecer uma certa democratização do acesso ao atendimento à saúde mental.
Por isso, não há por que hesitar. Se você está passando por momentos difíceis, se precisa de ajuda para enfrentar problemas, se tem vontade de saber e entender melhor seu caminhar por esse mundo, ou tem qualquer outra razão, procure um psicanalista ou psicólogo. Com um celular e uma conexão razoável, já é possível receber atendimento. E, claro, se você gosta do que eu escrevo ou da maneira como penso, ou quer saber mais sobre meu trabalho, clique no botão abaixo e fale comigo pelo Whatsapp.